Entrevista com Leila Sterenberg, jornalista da GloboNews e membro do conselho curador da SBH

A jornalista da GloboNews, Leila Sterenberg, apresentadora do canal de notícias, brilha na tela da TV especialmente em entrevistas internacionais e traduções simultâneas ao vivo. Fluente em cinco idiomas, ela tira de letra tarefas assombrosas como a da fatídica notícia do atentado terrorista de 11 de Setembro. Poucos sabem que a jornalista, dona de inteligência impecável e beleza encantadora, faz parte do conselho curador da SBH, mantenedora do Colégio Cruzeiro, e é mãe de aluna da instituição. Nessa entrevista, ela conta para nosso site sobre a importância do estudo, o impacto do aprendizado da língua alemã na sua carreira, e comemora o seleto convite do Departamento de Intercâmbio Acadêmico do Governo Alemão (DAAD) - apenas 12 selecionados no mundo todo - para acompanhar in loco as eleições históricas que acontecem em setembro e serão um marco do fim do ciclo de 16 anos da chanceler Angela Merkel no poder. Leila também dá dicas preciosas sobre como aproveitar o tempo a nosso favor: "Tudo ao seu redor que pode ser visto como distração, pode também ser um arsenal de ferramentas".


COLÉGIO CRUZEIRO: Todo mundo fica espantado com a quantidade de idiomas que você domina. Quantos e quais são?

LEILA STERENBERG: Além do português, claro, dá para dizer que eu sou fluente em inglês, francês, espanhol e alemão. Consigo conversar em italiano, que estou estudando, e, no momento, também aprendo russo e tenho alguma noção de hebraico e romeno.


COLÉGIO CRUZEIRO: Você aprendeu algum desses idiomas em casa, quando pequena?

LEILA STERENBERG: Não. Eu comecei a aprender inglês e francês aos 10 anos em uma escola pública.


COLÉGIO CRUZEIRO: Em qual escola você estudou?

LEILA STERENBERG: No CAP Uerj.


COLÉGIO CRUZEIRO: E quando você aprendeu alemão?

LEILA STERENBERG: Eu estudei por 1 ano e meio quando estava recém-formada em Jornalismo na UFRJ. Parei durante alguns anos e voltei a estudar em 2003. Com maior ou menor frequência faço aulas até hoje.


COLÉGIO CRUZEIRO: O que te motivou a aprender alemão?

LEILA STERENBERG: Eu já falava inglês e francês direitinho e já me virava em espanhol, aí me perguntei: por que não alemão? Além disso, ele tem alguma semelhança com a língua materna do meu pai, o iídiche, que é o dialeto dos judeus da Europa Oriental.


COLÉGIO CRUZEIRO: Qual a importância desse idioma para impulsionar sua carreira?

LEILA STERENBERG: Eu já tive algumas oportunidades que foram consequência do fato de falar alemão como viagens para Alemanha que fiz a trabalho em 2005, 2012 e 2014, nas quais fiz entrevistas no idioma. Entrevistei, por exemplo, o ator Daniel Brühl do filme "Adeus, Lênin", e o escritor Bernard Schlink, autor de "O Leitor", que virou filme e pelo qual Kate Winslet ganhou o Oscar de Melhor Atriz.

Fiz também reportagens especiais e programas sobre os mais diversos temas. Até fui chamada para uma reportagem em Nairóbi por falar alemão. E, claro, esse convite agora para ser observadora das eleições alemãs que tem como pressuposto o domínio da língua. Vamos participar de uma série de palestras e conferências em alemão. Vai ser uma oportunidade incrível daquilo que todo jornalista mais gosta: acompanhar o desenrolar da História em primeira mão.


COLÉGIO CRUZEIRO: Por dominar tantos idiomas e ter aprendido alguns já adulta, fica evidente que você gosta de estudar. Qual a importância do estudo para você?

LEILA STERENBERG: O estudo é parte estruturante de quem eu sou. Eu fui o que, na época, chamavam de CDF quando eu era criança. Só que estudar pra mim nunca foi propriamente um sofrimento, era uma combinação de disciplina e exercício da curiosidade. Estudar é conhecer assuntos mais a fundo. Isso e coisas prosaicas como conjugar verbos, por exemplo, são coisas que me divertem. Acho que assim como a gente tem prazer no exercício físico, botar a cabeça para funcionar também é uma fonte de prazer.


COLÉGIO CRUZEIRO: Você acha que o aprendizado de alemão melhorou seu raciocínio de alguma forma?

LEILA STERENBERG: Acho que o aprendizado de qualquer língua gera novas sinapses. Não sou especialista no assunto, mas certamente mal não há de fazer. (Risos). Eu me coloco alguns desafios que fazem parte do meu cotidiano, no momento estou terminando um livro em alemão de 1275 páginas - Das achte Leben: für Brilka -, de uma georgiana radicada na Alemanha, Nino Haratischwili.


COLÉGIO CRUZEIRO: Com tantas conquistas e dedicação ao estudo, você gostaria de dar uma dica aos estudantes do Colégio Cruzeiro?

LEILA STERENBERG: Uma coisa que é muito importante é você gerenciar o tempo. Um desafio na nossa vida corrida é separar um tempo para trabalhar, para fazer atividades físicas, para estar com a família, para manter sua vida social e também para sempre estar estudando e aprendendo alguma coisa nova. Acho que hoje concentrar-se é um desafio. Então, o que a gente tem que fazer é transformar a distração em um aliado. Pode ser um podcast, um dicionário online... Tudo ao seu redor que pode ser visto como distração, pode também ser um arsenal de ferramentas. Hoje em dia é muito mais fácil ter acesso para ler qualquer coisa em alemão do que há 20 anos. Hoje você pode assistir um programa no idioma que você quer e aprender vendo as legendas.

Uma dica para os alunos da escola de ensino avançado é o podcast Auf Deutsch gesagt!


COLÉGIO CRUZEIRO: Se você pudesse, com sua cabeça de agora, dar uma sugestão para a estudante que você foi, qual seria?

LEILA STERENBERG: Eu teria estudado mandarim! Mas isso é tão distante da minha história familiar e do meu dia a dia que vai ficar para uma próxima vida. (Risos)


COLÉGIO CRUZEIRO: Pelo que você nos contou sobre seu dia a dia, consegue se ver parando de estudar em algum momento?

LEILA STERENBERG: Não. Estamos vivendo cada vez mais e eu espero ter ainda algumas décadas de saúde e capacidade cognitiva para seguir aprendendo. Por isso acho que idiomas são algo que me vejo estudando até ficar bem velhinha, talvez por isso eu tenha começado agora a estudar russo que é bem diferente e será um desafio de muitos anos até eu conseguir ler a literatura no idioma original. Em algum momento da vida, quero voltar a estudar hebraico por conta da minha ascendência judaica. Hebraico também é muito diferente do português, muito mais que do alemão. Serão anos até eu conseguir ter alguma fluência, mas esses desafios não me desanimam, pelo contrário, eles me instigam.


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